Líderes não são definidos pelo cargo que assumem, mas pelo seu comportamento e pelas suas habilidades interpessoais.
Muitas pessoas assumem esse tipo de função por sua experiência e conhecimento técnico, mas só isso não é o suficiente. Afinal, o papel da liderança é de incentivar, motivar, conduzir e orientar aqueles ao seu redor — e essa pode não ser uma tarefa fácil.
Podemos dizer, então, que nenhuma pessoa nasce como líder, mas que evolui ao longo da vida para assumir esse comportamento — mesmo que seja para ser líder de si.
A postura de uma liderança pode ser dividida em quatro categorias: líder fazedor, herói, mentor e facilitador, cada uma definida pela forma como se comporta com a equipe.
Diferentes posturas do líder
Vamos começar pelo líder fazedor. Nesse caso, é comum encontrarmos pessoas que chegaram ao cargo pelas competências técnicas (hard skills). Por conta disso, elas agem, inicialmente, apenas como executoras.
Isso acontece, principalmente, porque a pessoa não consegue confiar o suficiente na equipe para delegar tarefas. Inclusive, em casos como esse, é comum observar a presença de sabotadores como o Controlador. O líder fazedor geralmente age sob o lema de que somente ele poderá fazer algo da melhor forma possível.
O bom é que esse é apenas o começo da jornada para uma pessoa que está iniciando em um cargo de liderança — ainda existe muito espaço para evolução, conforme a pessoa se “liberta” do papel anterior e se torna mais confortável com a nova posição.
Agora passamos para o líder herói. Nesse caso, é comum observar aquele comportamento típico de um(a) chefe que atua no modelo comando-controle. A pessoa acredita possuir a maioria das respostas (e as outras ao seu redor também), portanto, pode simplesmente dizer à sua equipe o que fazer.
Sair dessa fase pode ser um desafio, principalmente porque, na maioria dos casos, existe a validação externa.
Em um artigo chamado “Liderança na era da complexidade: do herói ao anfitrião”, escrito por Margaret Wheatley com Debbie Frieze¹, há um trecho que diz:
“[…] Muitos de nós ficamos fascinados por heróis. Talvez seja o nosso desejo de sermos salvos, não fazer o trabalho mais difícil, confiar em alguém para resolver as coisas. […] É uma imagem sedutora, uma promessa sedutora. […] Em algum lugar, há alguém que vai melhorar tudo. […]”
O sabotador Controlador se mostra ainda mais nítido nessa fase, sempre acompanhado pelo Crítico.
Agora vamos para o que chamamos de líder mentor, onde as coisas começam a mudar para melhor. Podemos observar, nesse momento, que o líder passa a entender melhor as necessidades do seu time, assumindo a função de orientar a equipe, perceber talentos e necessidades, entre outras.
Entretanto, não é incomum que a pessoa sinta a necessidade de assumir grande partes das responsabilidades, de se tornar quem quer ajudar a todos e de ter todas as respostas. Tudo isso gera estresse, ansiedade e frustração, consequentemente prejudicando a relação entre líder e liderados.
Aqui é comum observarmos a presença do sabotador Prestativo, que faz com que a liderança acabe perdendo muito tempo ao ajudar excessivamente o time.
Por fim, observamos o líder facilitador. A pessoa começa a se dedicar verdadeiramente à liderança, percebendo que esse não é apenas um cargo, mas uma escolha. Essa é a “versão ideal” da liderança.
A pessoa cerca-se de referências e investe em seu desenvolvimento como líder, além de enxergar que sua responsabilidade é sustentar e guiar um grupo pelo melhor caminho, oferecendo as ferramentas que cada membro precisar. Ela age, de fato, como facilitadora da evolução e autonomia das pessoas.
A liderança facilitadora
Gosto de usar a definição de que o líder facilitador usa a inteligência coletiva para o bem de todo o sistema, tirando o foco apenas dos processos e resultados, e colocando-o nos talentos e nas relações, que é de onde o sucesso realmente vem.
Podemos perceber, nessa fase, dois comportamentos principais: a delegação de tarefas, com organização e estrutura, e a confiança de que as pessoas irão se dedicar para realizá-las.
Eu costumo dizer que esse comportamento acontece porque a liderança entende que o ser humano, quando não se sente ameaçado (com medo de ser demitido ou repreendido), busca colocar sua melhor versão a favor da organização.
Mas não é sempre assim
A verdade é que, na maioria dos casos, líderes não ficam estacionados em apenas uma dessas fases, mas transitando entre elas.
Durante momentos de crise, por exemplo, qual dessas versões você assume? Se você se considera uma liderança facilitadora, você se mantém nessa posição durante as crises ou desliza para o papel de herói ou fazedor?
Permanecer na sua melhor versão durante os momentos mais difíceis e desafiadores é um exercício, especialmente quando estamos sob a influência de algum dos Sabotadores que eu mencionei anteriormente.
É por isso que liderança é sinônimo de desenvolvimento constante. Ser responsável por outras pessoas é um grande dever, e é preciso se comprometer a buscar a sua melhor versão não só para si, mas para todos que contam com a sua orientação.
¹Liderança na Era da Complexidade: do Herói ao Anfitrião, Margaret Wheatley e Debbie Frieze